Não está nada fácil para as marcas estabelecerem uma comunicação verdadeira com as pessoas. Captar a atenção de consumidores impactados a cada segundo por milhares de informações, que chegam pelos mais diversos canais, virou tarefa para poucos – mais precisamente, para quem está disposto a repensar velhos modelos e se abrir ao novo.

“Estar ligado ao comportamento humano e de consumo é um dos segredos para as empresas detectarem novas formas de ação para pensar, desenvolver e comunicar produtos e serviços”, sugere o antropólogo britânico Tim Lucas, que vive no Brasil há 10 anos. Isso significa se abrir para o que o pesquisador chama de small data, ou pequenos insights, que podem fazer grande diferença. “É fundamental observar esses micro comportamentos e entender que, muitas vezes, algo pequeno pode gerar grandes resultados”, observa.

Foi o que fez a rede varejista Asda, da Inglaterra. A empresa percebeu, a partir de uma experiência vivida em uma das lojas com o filho de uma cliente, que os autistas não gostam de ir a supermercados, pois se sentem fortemente impactados por luzes, sons e o grande número de pessoas, o que gera ansiedade. A partir disso, a empresa criou a “hora tranquila”, momento do dia em que as escadas rolantes, o alto-falante e a música são desligados. Com isso, criou-se um ambiente mais confortável.

“A partir de uma simples observação, a rede ofereceu uma nova experiência para quem se incomoda com locais muito barulhentos. É um bom exemplo de como é possível inovar a partir da observação das necessidades humanas”, relata.

O professor de Inovação Digital da ESPM, Gil Giardelli, observa que o que falta é as marcas entenderem que estamos entrando em uma nova era. Sai de cena o Business to Business (B2B) e o Business to Consumer (B2C) e entra o Business to Human (B2H). “O ser humano está no centro de tudo e, quando isso acontece, não podemos mais simplesmente catalogá-lo como um consumidor. A empresa tem que deixar de vender produtos e serviços e passar a vender valores”, sugere.

Mas e como exercitar essa capacidade de percepção do ser humano? “O desafio é criar uma cultura corporativa em que os colaboradores sejam estimulados a parar um pouco, refletir, se questionar e analisar esse ambiente em transformação o tempo todo”, comenta Lucas. Segundo o professor, isso ajuda a explicar por que muitos players do Vale do Silício (EUA), a meca da tecnologia e da inovação mundial, têm apostado no mindfulness – prática da atenção plena, uma forma de estar presente a si, aos outros e ao meio à sua volta a cada momento.

Nas sedes de players como Google, Linkedin, Twitter e Paypal, a meditação é uma realidade. “Muitas empresas têm apostado nisso, porque perceberam que os seus colaboradores não conseguem parar. A verdade é que todos vivemos distraídos com os nossos dispositivos móveis e esquecemos de questionar o que as pessoas esperam de nós”, diz.

A especialista em exercício físico e coach em bem-viver Carla Lubisco concorda que diminuir o ritmo é fundamental para abrir espaço para o novo. “É importante ficarmos em silêncio por alguns minutos do dia, mantermos o foco na respiração e deixarmos os pensamentos simplesmente passarem, sem darmos força para eles”, observa. “Ao criar esse ambiente de tranquilidade, acalmamos a mente para que ela possa voltar mais reenergizada.”

Com 40 anos de experiência do mercado de saúde, Carla lançou, neste ano, um método chamado Treino Consciência Corporal MindFulness, um mix de posturas da Yoga, alongamento e meditação, por meio de técnicas de respiração e consciência dos movimentos corporais. “O objetivo é a busca de um estado mental de atenção, foco e relaxamento que ajudam o aluno a estar presente aqui e agora”, relata. O serviço tem como clientes executivos e times corporativos, como das áreas de Marketing e Inovação de empresas.

 

FONTE: JORNAL DO COMÉRCIO